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25 março 2010

Adiante

Eu queria desejar-lhe um bom dia, mas o dia já passou. São 23:35 e eu deixei o dia passar. Um dia inteiro e eu não lhe disse uma palavra sequer. Infelizmente, eu não posso voltar no tempo. O erro não pode ser apagado. Desculpe-me. Por favor, desculpe-me. Ainda que pareça ser tarde demais, desculpe-me. Eu não queria que fosse assim. Eu tinha tanta coisa pra fazer hoje. Tive que levantar mais cedo e não quis acordá-la. A manhã foi mais agitada que de costume. Pensando bem, esta frase não deve fazer muito sentido pra você. Sei que tenho estado ausente nas últimas semanas e sei, também, o quanto isto tem afetado o nosso relacionamento. Pensei em levá-la para almoçar comigo hoje, mas o trabalho não permitiu. E o trabalho me levou o resto do dia. O trabalho me levou você. Eu permiti isto. Fui cego e idiota o bastante pra não perceber. Quando consegui a promoção fiquei tão feliz. Ficamos tão felizes! Parecia que nossos problemas acabariam de vez. Poderíamos eliminar as dívidas, comprar uma boa casa e, finalmente, preparar terreno para a chegada de um tão sonhado filho. E como queríamos um filho! Mas as coisas caminharam de um jeito imprevisível. A bênção se revelou maldição. O trabalho, em vez de nos unir por completo na figura de um filho, nos separou de maneira lenta e dolorosa. A harmonia tão bela que havia entre nós foi despedaçada. E a culpa é toda minha. Você me alertou repetidas vezes, mas eu não queria escutar. Estava intocável no meu novo mundo de poder e não podia ser abalado. Você deixou de ser a encarnação do meu amor para se tornar apenas mais um troféu de minha vida vitoriosa. Eu me tornei desprezível. Tenho vergonha do que fiz. Tenho vergonha do que me tornei. Meus olhos se enchem de lágrimas no exato instante em que me lembro. Há poucos dias, após o enterro de mamãe, meu pai me surpreendeu aparecendo no trabalho para almoçar comigo. Ele estava preocupado com o que via acontecer conosco; comigo. A princípio, fui relutante em admitir qualquer coisa, mas aos poucos ele foi me vencendo. Suas palavras naquele dia foram tão fortes que nós dois ficamos chorando ali, feito duas crianças que perderam seus doces, por uns bons minutos. Disse, entre outras coisas, que, apesar do sofrimento inerente à perda de mamãe, podia continuar sua vida em plenitude com a certeza de que havia vivido até ali para torná-la feliz. Acho que agora você entende porque tenho estado um pouco diferente nestes últimos dias. Estava tudo errado e eu tinha que tentar arrumar antes que fosse tarde demais. Organizei todo o meu serviço na empresa de maneira que não saísse de lá com pendências. Pois é, eu resolvi me demitir. As coisas podem até ficar mais complicadas financeiramente daqui pra frente, mas sei que é a atitude certa. Nós devemos construir este casamento juntos. Eu quero viver para torná-la feliz. Eu te amo! Que Deus nos abençoe!

Com amor,

Seu eterno marido.

A porta abre:

- Você me perdoa?

1 Comments:

Blogger Lucas Saldanha said...

Caraca Ju eu não conhecia esse seu lado escritor! Sinceramente até me emocionei com a texto! Muito bom mesmo! Abração leke!

5:39 PM  

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