Nome:
Local: Niterói, RJ, Brazil

06 junho 2009

Tão simples quanto sorrir

Há um dia perdi meus passos no mesmo caminho que faço e refaço todos os dias. Tropecei no marasmo e descobri o inusitado. 
No meio do caminho, no mesmo diário caminho de andar mecânico e trajeto automático, encontrei um palhaço. Ele riu quando tropecei. Ele não só riu, como gargalhou. Não satisfeito ainda, ficou me rodeando, saltitando, apontando, zombando da minha situação. Eu nem cheguei a cair no chão, apenas me desequilibrei, mas foi o suficiente para ele fazer sua festa. Meu anonimato cotidiano, meu ser mais um homem comum a caminhar pelo mesmo lugar de sempre foi corrompido em um instante, um mísero instante de descuido. Bastou um passo em falso, dentre milhares, quiçá milhões de passos regulares, para que a métrica do meu dia-a-dia fosse quebrada. Foi só um mínimo detalhe e meu equilíbrio se foi. 
O palhaço não parava. Eu não sabia lidar com aquilo. Era um momento completamente novo pra mim, um espaço desconhecido. Eu não tinha apoio. Eu não tinha em que me sustentar, ou em quem. Eu estava só. E o palhaço permanecia. Seu riso se espalhava por outras bocas. Era um som crescente que tomava todo o ar e me sufocava. Eu estava paralisado, cercado pelo que jamais vira, entocado em minha vergonha. Tudo já estava estabelecido, não havia como fugir. Eu olhei para o palhaço e ele me olhou de volta, não com um olhar intimidador, mas com graça. Não sei porque, mas eu sorri. De repente o sorriso se fez riso, o riso, gargalhada e a gargalhada era alegria. Eu ria de mim mesmo e ria do palhaço. O palhaço ria de mim e de si e do povo. Todos riam. 
Comecei a entender o palhaço e o riso. Também agora me entendo e rio. 
Descobri no tropeço o olhar do palhaço. 
Lembrei-me, pois, de minha infância.