Ágora do Rio

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Local: Niterói, RJ, Brazil

18 outubro 2006

Liberdade ou liberdade!

Quem diria que o povo brasileiro finalmente chegaria à tamanha consciência e participação política do momento? É no mínimo incrível que possa ser visto em qualquer esquina debates acalorados sobre as melhores propostas, os melhores candidatos, enfim, sobre o que é melhor para o país. Mas a que preço?
Estarreceu-me, ao chegar à faculdade, ver uma amiga de óculos escuros e curativos no nariz e saber que ela foi agredida simplesmente por expor seu posicionamento político, direito esse garantido pela nossa "democracia" tanto defendida pelos seus agressores. Confesso que fiz piadas e não contive meu riso, mas também me sensibilizei. Onde chegamos? Sim, numa maior consciência política, o que é louvável, mas em troca da nossa própria humanidade? Em troca da nossa principal característica como seres humanos, a de sermos seres sociais?
Aliás, o dia foi repleto de perplexidades, porque me surpreendi ao saber que seus salvadores foram policiais militares. Talvez esse tenha sido um baque maior, mas ainda sim um baque que, como aquele, não deveria ter acontecido.
Já não sei mais o que pensar sobre nada. Venho lendo difíceis, complexos e extremamente interessantes textos de filósofos, sociólogos, juristas, enfim, todo tipo de ideologias que me levam cada vez mais a questionar tudo e todos. E, infelizmente, tive de questioná-los e discordar deles. Talvez por terem uma visão utópica que seria muito eficaz em outra sociedade, mas não em uma tão desesperançada como a brasileira. Simpatizo muito com o anarquismo e vejo o socialismo como um meio para aquele fim. Mas quando páro e olho e analiso a multifacetada e complexa e simples sociedade brasileira não consigo imaginar tais sistemas, tais visões, implementados com eficácia no país. Infelizmente nosso sistema tem defeitos demais que aqueles ainda não podem consertar. E recaímos na única opção que nos sobra: o capitalismo selvagem e interesseiro internacional. E, ainda que este não seja exatamente o sistema certo para nossa sociedade, visto que ainda somos uma sociedade solidária (em termos e superficialmente, mas ainda solidária), é o que nos resta.
Não pensem que tenho uma visão pessimista, mas temo ser este o único meio que pode dar alguma consciência ao povo, mesmo que venha através de embates e combates. Às vezes, só a vida ensina. E é dessa lição que recorreremos às novas, como às que eu recorro diariamente quando me enterro em livros e textos.
Ainda temos de trilhar um enorme caminho. E, mesmo na situação caótica em que nos encontramos, temos de trilhar. Que está seja uma viagem de superação, de elevação intelectual.
Sou anaquista e não defendo desejos classístas, mas desejos de liberdade pessoal. Mas antes e acima de tudo sou humanista e defendo a liberdade de todos e de cada um. Toda vez que vejo esses rebeldes sem causa destruírem não só "a integridade física" (como minha amiga disse) de uma pessoa, mas seus (tanto dela como deles próprios) ideais, sinto-me mutilado.
Enquanto não nos conscientizarmos de que deixamos de ser selvagens e utilizarmos nossas diversas e desenvolvidas formas de comunicação e socialização, não seremos nada.