Ágora do Rio

Nome:
Local: Niterói, RJ, Brazil

17 abril 2010

Via sperare

Ela caminhava lentamente. Carregava nos ombros o peso de um amor inteiro. Carregava porque não havia outro jeito. Era assim que deveria seguir até o fim daquela estrada. Sabia que, chegando lá, o sofrimento arrefeceria. Poderia, enfim, liberar os ombros cansados. Por fim, o começo de uma vida. A vida com a qual sonhara antes mesmo de saber.

Mas a estrada era extensa. Inimaginavelmente extensa. Inimaginavelmente porque não podia ver o seu fim. E não podia sequer imaginá-lo. Não era fácil caminhar assim. Não foi fácil até ali e, definitivamente, não seria fácil a partir dali. Para ela, parecia ficar cada vez mais difícil.

Aquela não era só uma estrada de passeios planos e firmes. Era uma estrada tortuosa e torturante. Por vezes, era um caminho sem fim. Um segmento de andar duro, ríspido, confuso, trepidante, anômalo, triste. Havia dor naquela estrada e a dor era intensa, imensa. Vestígios de lágrimas podiam ser vistos por todo o espaço da via. Era notável que muitos não conseguiam seguir por muito tempo naquele caminho. Sabe-se que poucos seguiram até o final.

Ela caminhava lentamente, mas não parava de caminhar. Sabia que não podia parar. Sabia que deveria seguir ininterruptamente até o fim. Mas estava cansada. Ela pensou algumas vezes em parar. Talvez fosse melhor desistir. Talvez não valesse a pena. Não. Ela não desistiu. Estava cansada, mas ainda tinha forças. E sabia que, eventualmente, recobraria o ânimo. Suas lágrimas estavam-se esvaindo e secando em seu rosto. Ela esboçava um sorriso. O sorriso mais belo, que só nela nascia.

Mas ela não caminhava só. Ela tinha alguém. Alguém que carregava no peito. Alguém que repartia com ela o peso nos ombros. E os pés dele guiavam seus pés, procurando os espaços mais macios da estrada. Suas mãos seguravam as dela com firmeza e carinho. Seus braços a envolviam e ela sentia-se segura. Seus olhos fitavam diretamente os dela e a enchiam de paz. Seus lábios a beijavam com ternura e paixão. Sua voz a cobria de esperança. Ela não o notava sempre, mas ele estava sempre ali.

Ela caminhava e não parava, porque sabia que valia a pena. Sabia que o que carregava nos ombros era valioso o bastante para valer o esforço.

15 abril 2010

Que droga! ou Água mole em pedra dura* (RIP)**

Ia postar um texto sobre a chuva e a tragédia e tudo o mais que aconteceu no Rio e em Niterói semana passada. Só que, depois que já havia escrito tudinho, bonitinho, legalzinho, cliquei na paradinha de atualização e, tcharam, deu ruim! "Calma, deve estar salvo no rascunho." - inocentemente me iludi. Não estava nada! Ok, estava o primeiro parágrafo. Que beleza...

Moral da estória: estou um tanto quanto revoltado. E o pior é que tinha gostado do texto. E o mais pior ainda (redundância necessária) é que jamais vou conseguir reescrevê-lo! Por mais que eu faça um texto melhor, eu não vou achar melhor. Não tem como. Por mais que eu ganhe um Pulitzer com ele, ainda assim será infinitamente pior que o original pra mim. E ninguém vai poder me contestar, porque o original NÃO EXISTE MAIS!!! Simplesmente desapareceu da face da terra. Não deixou vestígios. Tá bom, deixou o primeiro parágrafo. Legal... ¬¬

Se tivesse desaparecido por completo seria melhor. Não ficaria encarando-o e tentando sugar do fundo de meu córtex cerebral (esta frase não deve fazer o menor sentido) as mesmíssimas palavras que usei pra construir aquele texto que tanto me trouxe paz e alento em sua tão breve existência. Pois é, a raiva e a decepção se tornaram em tristeza. Vou chorar e já volto...

Voltei. E, quer saber? Que se dane! Não queria postar aquele texto mesmo. Devia estar ridículo. E é bem possível que eu sofresse críticas e agressões verbais de boa parte de meus mulhões de leitores. É que eu repartia a culpa da tragédia dos deslizamentos com os moradores das favelas. Não sei porque eles se eximem de toda a culpa se eles sabem que moram em local de risco. Concordo que muitos não têm condição de morar em outro lugar, mas quando alguns têm a oportunidade de se mudar não o fazem. A culpa também é dos que criticam as medidas de contenção da ocupação desordenada, a saber, os muros em torno das favelas e a remoção de moradores. A culpa também é minha que não fiz nada pra mudar alguma coisa. A culpa é do governo, obviamente. E a culpa é do sistema; o capitalista.

Não estou culpando os moradores de favelas pelas mortes (eu explicava melhor no outro texto), só estou dizendo que eles sabem que moram em locais de alto risco. Eu me solidarizo com os que estão sofrendo tanto. Não imagino a dor que estejam passando e espero que esta tragédia jamais se repita. Só que eu não sei melhor solução para isto do que a remoção de moradores das áreas de risco. Por isso, não a entendo a seguinte declaração do Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói: "Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade."

Se você tem alguma solução melhor, por favor me avise.



*Título do outrora texto.

**Rest in peace (descanse em paz)

08 abril 2010

Dias depois

- Como assim ele está vivo?!

- Ele ressuscitou! Ele voltou, em carne e osso! Ele é o Cristo!

- Então quer dizer que ainda há esperança. Israel será restaurada!

- Não é bem assim...

- Como não? Está nas escrituras que o Cristo viria para restaurar Israel. O Cristo é o libertador do povo de Deus!

- Sim. Ele é o libertador. Ele é a Nova Aliança de Deus com o povo, mas não se trata só do povo de Israel. Perguntaram-lhe, a Jesus, em uma de suas aparições aos discípulos, se restauraria o reino de Israel neste tempo. Ele respondeu que não nos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.

- Eu não estou entendendo... Como ele é o libertador?

- Ele nos libertou da morte. Era necessário que fosse morto para que pudesse vencer a morte e, assim, nos libertar de suas amarras. Por meio de seu sangue fomos salvos. Nós, os que cremos em sua santidade. A glória de Deus Pai foi manifesta nele. Ele é a primícia dos que ressuscitarão para viver a glória eterna diante do Pai. E a Nova Aliança é a nova Israel, a saber, todo aquele que confessar que Jesus Cristo é o Senhor. O povo santo do Senhor. Porque disse aos discípulos: "Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; e em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém." Disse ainda: "Recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da Terra."

- Então a salvação era a libertação dos pecados e da morte?

- Sim. Cristo é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O sacrifício derradeiro. O véu do templo foi rasgado. Ele trouxe livre acesso ao Pai.

- E onde ele está agora?

- Ele subiu aos céus diante dos discípulos. Está à destra do Pai. Mas eis que virá sobre nós o seu Espírito consolador e estará conosco até a consumação dos séculos.

03 abril 2010

Sexta

- Ele está morto?

- Está.

- Eu não entendo. Não era pra ser assim. Ele era nossa esperança de libertação. E agora?