Ágora do Rio

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Local: Niterói, RJ, Brazil

17 junho 2006

Suscitando Conflitos

Bom... eu ia escrever um artigo sobre a outra bola da Copa do Mundo e suas recentes declarações desrespeitosas ao presidente da República. Entretanto, aproveitei o gancho e resolvi falar do chefe no nosso Estado.
Tenho plena consciência de que irei inflamar dentro da maioria das pessoas que lerem este artigo um sentimento de ódio, traição ou até indignação. Plantarei a semente da discórdia exatamente para provocá-la, afinal, este sempre foi o objetivo do blog a meu ver. Serei o advogado do diabo (será mesmo este o termo certo?) ao expressar minha opinião sobre os acontecimentos políticos que se iniciaram há pouco mais de um ano em nosso país.
“Os fins justificam os meios” disse um dos maiores pensadores da humanidade, Nicolau Maquiavel. Todos aqui têm coragem suficiente de dizer que esse gênio (terá sido mesmo?) estava errado em sua concepção de mundo? Verdadeiramente, acredito que não. Então por que condenar uma pessoa, ou um grupo, se, assim, preferirem, por estar justamente acatando tais pensamentos? Sim... ESTOU distorcendo totalmente a realidade. Admito. Contudo, não o fazem todos os jornalistas ao repassarem a informação aos seus expectadores? Usando uma palavra que os lembrará um pouco da professora Beatriz, todos eles fazem uma TRANSFIGURAÇÃO do real. Então, por que encarar as informações passadas a nós como verdades absolutas? Afinal, cada pessoa percebe o real de uma forma diferenciada, interpreta-o de maneira única e o repassa a “la vonté”. Rapidamente, a verdade foi distorcida três vezes e nem chegamos à parte das opiniões dos editores e marqueteiros, não é mesmo?
“Toda unanimidade é burra”. Mais uma vez utilizo-me de frases conhecidas. Mas, considerando-a, o que é, então, o Brasil, em quase sua totalidade, senão burro? Temo que todos, ou, pelo menos, quase todos, estejam contra o atual governo. Não seria isso, no mínimo, para não usar um palavreado chulo, um ato de extrema falta de discernimento? Duvido que a maior parte da população sequer parou para pensar friamente sobre a situação. Simplesmente aceitou o que viu e concordou com o que foi dito; botou em uso o velho e famoso “nod and smile” (assentir com a cabeça e sorrir). Todos tão preocupados em parecer “cult” e “smart”. No entanto, esqueceram-se dos mais importantes ensinamentos, esqueceram-se da sabedoria popular, que, convenhamos, sempre está certa. Muitíssimas pessoas falando sobre a política, mas pouquíssimas a analisando como deve ser feito, ou seja, a ínfima parte da sociedade a vê como um JOGO, não com o sentido de entretenimento, mas, sim, como um jogo de interesses.
É claro que nos cabe o papel de juízes, uma vez que o presidente só chegou a tal posição por nossa vontade (será?). Contudo, desejar um Estado onde haja total nulidade de corrupção é demasiadamente utópico.
Recentemente, tive em minhas mãos algumas revistas dos “Fabulosos X-MEN”. Acreditem, existe sabedoria em quadrinhos também. Enfim... lá, eu li a seguinte sentença, “O poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente”. É, no mínimo, interessante ver que somos todos suscetíveis a tal coisa. Corrompemos e somos corrompidos. Observemos uma esfera social menor. Quem nunca pagou propina a um guarda, ou conhece alguém que o tenha feito? Claro que argumentos surgirão imediatamente em suas cabeças, dizendo que o caso é totalmente diferente. Será mesmo? Não estou realmente lembrado onde ouvi, nem as palavras exatas usadas, mas a idéia era de que a corrupção ocorreria na mesma proporção que ocorre a oportunidade, ou seja, se você tem pouco poder, corrompe um guarda; se tem um grande, corrompe um Estado.
Volvendo-nos um pouco para esse lado de corrupção, estando eu me formando como um jurista, quem PROVOU que o presidente estava envolvido (é aqui que toco na ferida, não?)? Afinal, um dos princípios do direito sempre foi “dubia in meliorem partem interpretari debent”, ou seja, a coisa duvidosa deve ser interpretada pelo lado melhor. E, também, por que nos focamos tanto nele? Acho que ainda não tomamos consciência de que viramos meras marionetes do jogo político. Focando nele, impedem, ao mesmo tempo, que uma pessoa com ideais benévolos e revolucionários (realmente acredito nisso!) retorne ao poder, e que tiremos a real corja da máquina pública. Por que será que pouco se fala dos deputados e senadores que receberam o mensalão, que venderam seus votos, que se entregaram à tão infame corrupção? Chega a ser ridícula e descarada a forma como tentam desviar a nossa atenção do verdadeiro problema. E, mais ainda, nossa atuação vergonhosa como cidadãos que a acatamos sem ao menos duvidar.
E, já que falamos em ideais, quem de vocês simplesmente trocaria suas mais profundas e verdadeiras convicções por poder político, que, diga-se de passagem, nem é tão grande assim na atual situação? Quais das meninas prostituir-se-iam pelo cargo de chefe do Estado? Desculpem-me pelo linguajar, mas quais dos meninos deixar-se-iam ser penetrados somente para terem tal poder? Sei que são exemplos extremistas, mas não deixam de ser convicções profundas e, praticamente, tangíveis ao seu portador, assim como os (lendários, como muitos pensam) ideais do nosso presidente, os ideais de um país melhor. Qualquer um que pusesse essa troca em prática sentiria, imediatamente, um vazio, quase uma mutilação do seu ser (está explicada a tangibilidade?). Estão todos dispostos a afirmar que toda a luta política de anos e anos foi jogada fora? Que o desgaste físico e emocional e o tempo de vida doado a toda a causa foram trocados por um simples cargo? Acho que as pessoas que fizeram tais afirmações sobre corrupção fizeram-nas impensadamente.
Quando é dito que o povo não tem memória política, concordo plenamente. Porém, vejo, claramente, que a classe política a tem menos ainda. Afinal, peço o bom senso de todos aqui, será realmente possível um esquema de tamanha grandiosidade tenha sido armado em tão pouco tempo? No entanto, nada é mencionado sobre o seu passado. Sobre os outros governos que permitiram sua continuidade. Estamos atolados na República da Hipocrisia.
Portanto, sem mais delongas e óbvias “encheções de lingüiça”, o Brasil está no caminho certo. Esperançosamente antevejo o resultado das próximas eleições presidenciais e, graças à evidente ignorância e à falta de informação do povo, o presidente talvez permaneça em seu cargo. Essas mentes não sofreram com as artimanhas da mídia neoliberalista e continuam convictas de seus ideais. O país pode e vai melhorar. Contudo, uma revolução, como era, evidentemente, esperado, não poderia ocorrer, afinal as elites ainda mandam e têm total controle da máquina pública. No entanto, somente o fato de termos um chefe que viveu as reais necessidades do país, que passou fome, que sofreu com a falta de educação, que já andou de ônibus, que já trabalhou de verdade, é um motivo de comemoração.

09 junho 2006

SP

Devido a certos contratempos técnicos, fui impedido de publicar o texto a seguir na época em que se encaixava. Contudo, não o posso deixar de publicar, mesmo quando seu conteúdo já não é tão pertinente, uma vez que é uma expressão profunda de idéias minhas sobre a situação político-social caótica daquele momento. Desde já, peço que não o interpretem pensando nos dias de hoje, mas, sim, pensando no nosso próprio 11 de setembro, nos dias em que o PCC tomou o poder da cidade mais importante do país.

"Bom, o tema do meu texto não ia ser esse, mas é impossível não se manifestar sobre um assunto de tal importância.
É, no mínimo, impressionante ouvir um político dizendo que estamos perdendo o controle. E eu me perguntando “Quando foi que o tivemos?”. Devo ser o único que consegue achar graça nessa situação, apesar de sua gravidade, mas, realmente, vivo a filosofia do “É melhor rir do que chorar”.
Quem pensa que o terror está no Oriente Médio, está completamente enganado. O terror se encontra no Brasil. E não falo somente do terror que é ver as pessoas morrendo de fome, ou ver crianças pedindo dinheiro em cada esquina, mas também do terror causado pelas organizações traficantes (sim, já são organizações, se não empresas).
A cidade de São Paulo, a maior da América Latina e o principal centro econômico dessa região, está sitiada. O poder paralelo já não é mais tão paralelo assim. Nem mesmo o atentado terrorista no metrô de Londres teve tantas vítimas quanto a onda de violência que assola a cidade. Por isso, reafirmo, o terror encontra-se aqui.
Como pode um governador dizer que a situação está sob controle, quando, a todo momento, ouvem-se mais e mais notícias catastróficas sobre a guerra civil em que se encontra a metrópole? Como pode afirmar que não negociou com os líderes do agora (mais) famoso PCC, se os ataques pararam por alguns dias sem a menor explicação ou medida drástica dos dirigentes do estado? Talvez o devem ter feito por pura bondade.
O que mais me preocupa é a imobilidade do governo. O descaso com que é tratada a população da cidade e do país, pois o movimento tende a se espalhar. Por que não colocar o exército na rua, afinal estamos em guerra, ou alguém ainda não notou? Obviamente isso seria uma derrota política. Todavia, o atual estado não o é? Quem, em sã consciência, votaria em um político (profissional, diga-se de passagem) que prefere ver seu povo morrer a perder seu lugar na máquina do governo?
É uma inversão de valores que aflige o país. E somos obrigados a ouvir um certo candidato à presidência da república, ex-governador de São Paulo, dizer que a segurança pública tem de ser reforçada, o que é um absurdo, uma vez que a segurança pública não seria tão necessária se as pessoas obtivessem um ensino básico de qualidade provido pelo Estado, e se suas mazelas fosses extintas. Dessa maneira, não necessitariam recorrer a meios ilícitos, como a junção ao tráfico, ou ao crime organizado, pois teriam capacidade, assim como todos os outros, de competir por um emprego decente e prover a seus dependentes e a si mesmos uma vida direita.
Outro fator que reparo é a insistência que a TV Globo tem dado ao fato de que alguns países, cujas taxas de analfabetismo são maiores que as nossas, possuem melhores índices de desenvolvimento humano (IDH), em uma tentativa de guiar as pessoas à idéia de que educação não melhora a qualidade de vida de uma pessoa. Isso não passa de um pecado mortal, de uma tentativa vil de convencer o povo de que o saber não leva a lugar algum. Não há o que discutir sobre tais índices. A taxa de analfabetos no Brasil só é (relativamente) baixa devido ao fato de que, para uma pessoa não ser considerada tal, só lhe basta saber assinar o próprio nome. Onde fica a cultura ou a consciência de cidadania? Como pode uma pessoa discernir o certo do errado se ela, mesmo lendo todas as palavras de um jornal, não compreende o sentido delas?
O caos instalou-se na maior cidade do país e ainda perdemos tempo discutindo sobre quem serão os convocados para a copa do mundo? A falta de seriedade e descaso em que se encontra o país são enormes. Um pouco de consciência e altruísmo podem fazer a diferença. Basta que queiramos essa mudança."

02 junho 2006

Abstração

De modo que via o tempo passar
Sentado à beira do mar
Contemplando a beleza ao redor
Imaginando coisas e sonhando meus sonhos
Sonhos tranqüilos
Tranqüilos sonhos de uma tarde de verão
De uma vida inteira
Passageiros inquietos de uma vida passageira

De modo que sonhava e não sentia o tempo passar
Quem se importa com o tempo
Estando à beira do mar?
Queria eu não houvesse tempo
Apenas sonhos
E o mar
O tempo corre do próprio tempo
O tempo corre contra mim
Sem tempo me perco
E perco o tempo
Sonho um dia ter tempo enfim
No fim
Um recomeço atemporal

De modo que o tempo passou e eu parei de sonhar
Apenas contemplava o mar
Agora distante
De tanto que sonhei
Não provei o mar
Agora é tarde
O meu tempo acabou